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"O jogo online em Portugal e as elei??es" por Ant��nio Tadeia

4 min. de leitura
ant¨®nio tadeia

Nenhum tema se apresenta t?o primordial para o futebol em Portugal nas pr��ximas elei??es como o do jogo online. Os milh?es de euros que s?o movimentados pela comunidade de apostadores que h�� muito deixou o Totobola e n?o acredita na aleatoriedade do Euromilh?es fazem toda a diferen?a entre um futebol a entrar em fal��ncia e um futebol ao qual se d�� uma botija de oxig��nio �C e se depois essa botija �� aproveitada ou desperdi?ada pelos dirigentes desportivos j�� �� outra conversa. A quest?o �� que quando falo de futebol n?o falo s�� de clubes, jogadores e treinadores. Falo de jornais, sites de internet, canais de televis?o, todos eles dependentes dos patroc��nios que s�� as grandes casas de apostas podem oferecer neste momento.

Ainda que muito tardiamente, o Estado portugu��s apercebeu-se na ��ltima legislatura do volume de neg��cios das casas de apostas, que operavam em Portugal num regime totalmente desregulado. Fez-se uma lei para que da�� pudessem vir receitas para o Estado, pela via normal nestas circunstancias, que �� a dos impostos. As taxas previstas na Lei portuguesa s?o superiores ��s da generalidade dos pa��ses europeus, o que desde logo condicionou a perman��ncia no nosso mercado de alguns dos maiores ��bookies�� internacionais, mas ainda assim uma m?o cheia deles anunciou que ia pedir licen?a para poder operar no nosso mercado. Sucede que o processo de atribui??o das licen?as �C e por iner��ncia da legaliza??o dessas casas de apostas �C tem sido demorado. Demasiado demorado para que se aceite que tem a ver com simples burocracia e n?o com a vontade de o arrastar at�� �� data das elei??es, por estar em causa uma profunda diferen?a ideol��gica entre as for?as em disputa.

Algumas casas continuam a trabalhar em Portugal. Fazem uma interpreta??o muito pr��pria da lei, segundo a qual enquanto n?o for atribu��da a primeira licen?a a lei n?o �� considerada em vigor e tudo continua como antes. As grandes e mais competitivas �C as que mexem com mais dinheiro, tamb��m �C retiraram-se, abrindo caminho �� entrada do Placard, o sistema de jogo offline da Santa Casa da Miseric��rdia. O sistema �� simples: registam-se as apostas nos agentes que aceitam boletins do Euromilh?es, mas n?o h�� depois qualquer possibilidade de gerir online as posi??es adquiridas. E se isso vem funcionar como sinal amarelo para os maiores apostadores, que funcionam com apostas de back-up, o sinal vermelho acende-se com a constata??o das odds (probabilidades) praticadas pelo Placard, sempre uns bons ��ticks�� abaixo das que servem de refer��ncia nas casas de apostas internacionais. Parece-lhe normal? Ent?o imagine que tinha o monop��lio das transa??es bolsistas num pa��s e que podia comprar todas as a??es que quisesse a um euro e depois vend��-las nos mercados internacionais a 1,10�. De quanto tempo precisava para ficar imensamente rico?

A quest?o �� que a realidade atual n?o �� m�� apenas para os apostadores. �� m�� tamb��m para os jornais, que t��m na Santa Casa da Miseric��rdia um cliente de luxo, mas que enquanto n?o foram disso impedidos por uma provid��ncia cautelar a trocaram pelas Betclics e BWins da vida. �� m�� para os clubes, para a Federa??o Portuguesa de Futebol e para a Liga, que al��m de perderem potenciais patroc��nios, recebem migalhas em vez de receberem uma parcela interessante daquilo que os seus jogos geram nos mercados de apostadores. No fundo, se presumirmos que um eventual governo PSD/CDS levar�� avante a lei que elaborou e que o PS manter�� a ideia anunciada recentemente por Ant��nio Costa �C e que �� a de dar o monop��lio �� Santa Casa da Miseric��rdia, dessa forma contribuindo para pagar a despesa do Estado ou da Seguran?a Social �C este �� um dos grandes pontos de disc��rdia entre as maiores for?as pol��ticas que v?o concorrer ��s elei??es de domingo. E ��, ao mesmo tempo, uma das ��nicas diferen?as verdadeiramente ideol��gicas entre ambas, entre quem prefere dinamizar a economia e receber a receita atrav��s dos impostos e quem prefere ter o Estado a gerir essa mesma economia, sem a interven??o da iniciativa privada.

Em mais de 25 anos de jornalismo j�� passei por uma s��rie de elei??es. A tradi??o nas reda??es era ouvir-se os respons��veis que os maiores partidos designavam para a ��rea do desporto acerca de pol��tica desportiva. Prometiam-se pavilh?es, pistas de atletismo, relvados para treinar futebol, pol��ticas de forma??o e dinamiza??o do desporto escolar. Desta vez, nada disso importa verdadeiramente. A pol��tica desportiva do pr��ximo governo vai definir-se com uma quest?o muito simples: o que vai fazer acerca do jogo online?

Ant��nio Tadeia

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*Agradecemos ao Ant��nio Tadeia a autoriza??o para partilhar o seu texto na ��ntegra

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